1. Sou um colecionador de diapositivos em slides e negativos fotográficos, fotografias de outras pessoas, achadas no lixo das ruas ou compradas em vendas de calçada- conhecidas no Rio como shopping-chão - ou em feiras de antigüidades e mercados de pulgas. Colecionar estes acúmulos de imagens de outras pessoas faz parte do meu processo, mas é no ato de ver e rever estes arquivos fotográficos que uma nova fotografia se dá na medida em que outras figuras se descortinam, personagens na periferia destas imagens, e da sociedade cisheteronormativa patriarcapitalista, passam a invocar visibilidade. Descobrir essas imagens é o meu fetiche de sujeito oculto e invisível. São retratos de pessoas desconhecidas mas que minha memória insiste em me contar alguma estória sobre elas ou sobre outres sujeites que não estão nelas ou estão ao largo delas. A memória é uma ilha de edição que se atualiza e se concretiza a cada instante de existência e resistência.
2. TODA FOTOGRAFIA É UMA ILHA ou TODA ILHA É UMA IMAGEM À DISTÂNCIA e navegar é preciso. A ilha do dia anterior, o passado a vista, que não há como desaparecer.
3. Imagine algo flutuando na água do mar. Você está num barco a deriva e avista um objeto pequeno se aproximando através do movimento calmo mas incessante das águas. Este objeto é o retrato de dois homens recostados a um carro. Este objeto é a fotografia de uma família num passeio de domingo. Este objeto é uma foto desfocada que vai ganhando forma a medida que você olha e continua a olhar para ela. Este objeto é a imagem de uma ilha que a cada ínfimo marulho se transfaz numa série de histórias revividas em contato com as suas lembranças. E outras imagens vão se juntando a esta. Amontoadas neste vasto oceano, elas estão por aí, ora visíveis ora invisíveis, "pois nenhuma fotografia permite decifrar o que se esconde no arquipélago de sombras em que está submersa." Mas não há o que desvendar, tudo está ali, o que há dentro e o que existe lá fora. Olhe e verás.
4. Não há somente violência, há saudade. Há poesia como forma de presença.
2. jogar fora as memórias esquecidas no fundo de uma gaveta é apenas uma forma de desocupar o espaço da gaveta para que novas memórias sejam esquecidas nela? Quais os parâmetros para se selecionar o que deve ser memorável?
3. Eram os deuses astronautas, e Erram os deuses humanos
4. das margaridas no jardim no dia em que partimos.
5. A Ilha da Fantasia, onde qualquer desejo pode ser realizado: Cheguei à ilha ao amanhecer - uma ilha como outra qualquer? - praia deserta, coqueiros, com um lindo azul por trás verde. Tudo como um misterioso penetrável de sensações. O som da mata, a floresta nativa, o barulho do que existe dentro e fora. A visão de algo que apenas conheço quando estou em sonho. Mistério e medo. Adentro neste lugar? Onde estou? Onde está a ilha? Daí, eu penso nas ilhas da minha infância, ilhas de fantasias, seus piratas, os tesouros e romances. Cheguei nesta ilha a nado, naufrago. Quem além de mim vivia fora dela? Quem aqui chegou antes de mim?
6. Talvez eu não conte uma história com começo, meio e fim, ou quem sabe, talvez apenas cite pequenos trechos dessa tal história. Mas todas estas imagens trazem um pequeno gesto preso à ilha do dia anterior. "Breve história de um gesto. Uma jovem acena, do portal do seu jardim, para o rapaz que acaba de deixá-la em casa. Um instante em que, sem pensar, ela vira e levanta o braço, com leveza e graça, como se lançasse para o céu um balão colorido. Esse instate é maravilhoso." Ecoa na minha cabeça e repito este trecho: Esse instante é maravilhoso. Esse instante é maravilhoso. "Todo o encanto da situação revela-se numa fração de segundo."
5. "a memória da fotografia revela a terceira realidade, aquela que se apresenta como um quebra-cabeça que deve ser montado pelo investigador."